A prisão nesta terça-feira (13) de uma quadrilha que fraudava vestibulares de medicina em instituições privadas do País chama a atenção para um risco: a livre atuação de médicos formados por meio desses esquemas. "Infelizmente há muitos, porque o grupo cometia esse crime há mais de dez anos. É possível, portanto, que existam diversos profissionais de caráter duvidoso", diz o delegado da Polícia Federal, Nelson Edilberto Cerqueira.
O líder da quadrilha desmantelada é médico, segundo o delegado. Ele atuava em Goiás, mas foi preso na Bahia onde o grupo já se reorganizava para atuar em novos vestibulares. O delegado afirma que a cada processo seletivo entre 15 e 20 candidatos participavam do esquema de fraude.
"Se os estudantes fazem isso para entrar na universidade, para serem aprovados nas matérias durante o curso, como será a atuação deles como profissional? Como a gente pode esperar que eles serão éticos?", questiona Cerqueira.
De acordo com o delegado, a segunda parte da investigação da PF vai apurar quantos estudantes se beneficiaram com o esquema. Caso algum profissional seja identificado, a polícia deverá comunicar o fato ao Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp).
Mancha no currículo
Segundo o delegado superintendente do Cremesp de Araraquara, José Manuel Bombarda, o processo de cassação neste tipo de situação pode ser demorado. “Se a investigação chegar a algum profissional e a Justiça entender que ele não tem o direito de exercer a profissão porque foi comprovado que fraudou o vestibular, aí sim cabe ao Conselho Federal de Medicina tomar alguma iniciativa. Dependendo do caso, ele pode perder o registro”, explica.
De acordo com Bombarda, tudo vai depender da avaliação da Justiça. “Se não houver como provar, não podemos fazer nada. Claro que um colega com essa mancha no currículo é algo que vai pesar muito contra ele”, diz.
Sobre a fiscalização nos cursos de medicina, o delegado ressalta que não compete ao Conselho, mas sim ao Ministério da Educação (MEC) avaliar a qualidade dos vestibulares. “Nossa única ação é sob a atuação do professor enquanto médico. Mas abominamos qualquer tipo de fraude, principalmente por parte dos estudantes porque se vão por esse caminho já começam mal”, afirma.
Fraude
O Centro Universitário de Araraquara confirmou nesta quarta-feira (14) que o vestibular para o curso de medicina, ocorrido na instituição em outubro de 2011, registrou quatro tentativas de fraude por meio de informações passadas por ponto eletrônico. O caso está ligado às ações da quadrilha presa após quatro meses e meio de investigação.
Deflagrada na manhã desta terça-feira (13), a Operação Arcano da Polícia Federal cumpriu 15 mandados de prisão e 16 mandados de busca e apreensão. A polícia detectou a ação do grupo em 13 vestibulares.
A organização da quadrilha era dividida em quatro grupos e já atuava há pelo menos dez anos. Um deles era o corretor, que se infiltrava nos cursos preparatórios em busca de candidatos.
Na segunda etapa, dias antes do vestibular, os alunos eram preparados por outros membros do grupo conhecidos como treinadores. Eles eram os responsáveis pelos aparelhos utilizados pelos candidatos.
Em seguida, era a vez dos “pilotos” entrarem em cena - os integrantes da quadrilha, cuja função era responder as questões de determinada disciplina, já que eram especialistas no assunto. Geralmente eles se inscreviam no vestibular e faziam a prova. Quando saíam da sala, comunicavam as respostas ao comando central da organização, que ficava em Goiânia. Por meio de um ponto eletrônico, o comando fazia contato com o aluno e passava o gabarito.
Fonte G1
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